Olá, menino!
Saudades de uma época em que você corria do meu lado, segurando a minha mão. Era doce e inocente nossa paixão. O frio na barriga que sentia ao perceber que você me olhava, era como tudo fosse novo e essa era a experiência mais bela que já tinha vivido. Meu primeiro amor. O destino, sempre ele, nos separou, mas ainda tenho lembranças dos nossos abraços e dos quase-beijos que demos. Nessa época, beijar a boca de alguém era nojento -- “Eca! beijar na boca?”
Hoje te vi de longe. Fiquei com medo de te chamar e você me tratar com frieza. Sei que fui tola, mas as memórias daquela época eram tão boas e pensei que um contato atual poderia estragar a última lembrança na nossa infância. Lembra daquele dia no parque, em que você me disse que queria fugir pra um lugar bem distante quando a gente crescesse? Ainda espero por alguém que me faça sentir assim, uma aventureira.
Ultimamente as coisas andam tão chatas. Me lembrei de você por causa disso. Era tão simples a nossa amizade, mas eu me sentia uma criança completa. Sei que falar desses tempos nostálgicos sempre relevamos os lados positivos. No entanto, também recordei de como chorávamos as dores um do outro, de como contávamos nossos segredos sem medo. Mesmo balanceando os momentos tristes e felizes, o saldo é altamente positivo. Todos aquelas brincadeiras; os passeios de bicicletas; os lanchinhos da tarde juntos e sua boca suja de ketchup sempre; os filmes que assistíamos no TV quando não tinha nada mais legal. Era puro, inocente.
Me sinto uma velha agora, tenho 18 anos. Eu sei, ainda estou saindo da adolescência. Ah! Mas a vida anda tão séria, as pessoas contam piadas pensando nas obrigações do amanhã. O riso já é mais um escape e não uma ato espontâneo por puro prazer de rir. Nem a própia amizade não é sincera, percebo as pessoas aturando outras só para serem aturadas, ouvindo desabafos, só para poderem desabafar depois; tudo vira jogos de interesses. O nível profissional e educacional dos indivíduos são fatores que, agora, demonstram a capacidade das pessoas. Essa incessante necessidade de crescer, crescer, alcançar grandes metas, de ser alguém na vida.. Sacrificar as boas oportunidades, deixar de viver para se alienar num processo sem lógica: acumular bens e status, enquanto a vida, a única chance que temos, passa.
Me canso disso. Prefiro a nossa época. Nossa grande preocupação era o que a gente ia fazer: jogar bola ou desenhar? O hoje era tudo que a gente tinha. Futuro? Ahn, isso vai chegar um dia, mas essa brincadeira está tão legal! Não sou contra estabelecer objetivos, propósitos, porém, na maioria das vezes eles deixam de ser as nossas metas e se tornam o nosso presente. Me sinto ansiosa, pré-ocupada. Odeio isso. Tenho desperdiçado meu presente com algo que ainda nem existe, que nem ocupa tempo e espaço real. Te encontrar hoje me fez cair a ficha.
Quero saber como anda a sua vida. Soube que você está namorando. Espero que ela seja alguém muito legal pra te fazer feliz. Quem sabe a gente pode marcar um almoço pra rir das ciladas que a gente já se meteu juntos. Cada pessoa que passa na minha vida deixa uma marca diferente. Gosto da sua. Me faz pensar que, mesmo com tantas insanidades, tantos dilemas existências, ainda há um terceiro caminho, um atalho que nos leva a uma terra fantástica. Lá, gente grande pode entrar, mas muitos não vão se sentir bem. É como uma casa na árvore: pequena, aconchegante, simples, mas onde acontecem as melhores conversas, onde a sinceridade flui e as máscaras e hipocrisias não entram.
Mas o tempo passa. As coisas mudam. Quero mudar, evoluir, só que quero saber conservar as essas coisinhas que escapam entre nossos dedos com tanta facilidade. Você cresceu... E engordou! Até a próxima. Prometo que na próxima vez eu te chamo. E se você me encontrar na rua, não deixe de me chamar também.
Beijos, Thaís de Oliveira.