Não consigo compreender pessoas. Por que nós não agimos da maneira sincera, de acordo com o que somos? É difícil, confesso, se comportar dessa maneira, porém percebo que no dia-a-dia tomamos posturas falsas que se confundem e se revelam paradoxais e totalmente absurdas. Política na vida pessoal é algo complicado, estabelecer relações amistosas, aliviando relações de conflitos entre indivíduos. Mas tentamos, todos nós tentamos.
Não se pode agradar a todos. Isso é uma verdade incontestável; até mesmo grandes figuras da História não conseguiram, inclusive Jesus Cristo. Porém existe a diferença entre não conseguir por ter uma postura fixa, um caráter incorruptível e uma personalidade maleável, que se transforma de acordo com quem se fala e relaciona. No primeiro caso, a conquista de algumas pessoas se torna uma conseqüência e não o foco central. Enquanto no segundo, o malabarismo de atitudes e decisões está voltado para fins de aceitação. Os meios, nessa ocasião, é apenas um artifício maquiavélico para chegar ao fim: uma imagem davinciana, matematicamente formulada da “pessoa adorável.” Porém o trágico, e também risível, é que esse objetivo é puramente utópico.
Assim entra a Política Cotidiana. Não sei se isso se trata de falta de valorização do próprio eu. Realmente desconheço as razões. No entanto vejo como isso se desenrola. Eu tenho que ser sensato então vou buscar os valores da sociedade, os padrões determinados como corretos para basear minhas decisões e me tornar um ser perfeito, que legal! Tenho que ter uma moral impecável, pentear meu cabelo e passar um gelzinho para não desaprovarem meu visual e ir para o Planalto Central acusar meus companheiros que estão se desvirtuando do aceitável e se aprisionando à falsa liberdade, mas também debater e julgar o cenário sócio-econômico-fofoqueirista da comunidade local.
Durkheim definiria isso como fato social da vida cotidiana, posto que é tão coercitiva e geral a adoção da Política Cotidiana. Tudo começa em falar um bom-dia com um sorriso na cara, manter uma postura simpática. Mas os exemplos chegam a um absurdo de se culpar e se martirizar para ser reconhecido como herói. O que denuncio não são atitudes heróicas, mas ser tão falso a ponto de tomar atitudes drástica em busca de uma simples status. Manter uma imagem estática apenas por mantê-la e receber elogios, “Mas que menino lindo!”. É praticamente uma lei na sociedade as pessoas preservarem sua aparência e lutar por ela para sobreviver socialmente. O que realmente sentimos, o que pulsa dentro de nós é secundário, pois o primordial é dar mais outra pincelada na Mona Lisa.
Formas elementares da vida cotidiana. Pra que? Por que? Não consigo entender como pode ter se tornado tão valioso a valorização e o reconhecimento de outros. Como ser feliz se todos nos amam, mas nós não desenvolvemos o que realmente somos e ainda escondemos nossa verdadeira essência?